D. Carlos Azevedo e Marcelo Rebelo de Sousa foram a Vieira do Minho partilhar uma conferência. O auditório ouviu que a Igreja Católica precisa de aprender a evangelizar com a consciência de já não ser maioria sociológica e de estar longe do poder.

“A evangelização precisa de uma revolução. A evangelização a partir do poder acabou”, afirmou D. Carlos Azevedo. “Nós, os leigos, não podemos demitir-nos. A Igreja não é só os bispos e os padres. E os católicos têm que viver como minoria, assumindo o que isso é”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Sexta-feira à noite, na V Conferência CAVA (Clube de Amigos de Vieira do Minho), o auditório municipal encheu, 343 pessoas, para o tema ‘Os Novos Desafios da Igreja Católica’.

D. Carlos Azevedo e Marcelo Rebelo de Sousa expuseram a evolução das condições de funcionamento da Igreja em Portugal, no contexto das suas relações com o poder político, e das evoluções sociais chegando ambos à evidência que hoje os católicos não servem nem tiram proveito da proximidade com as autoridades.

João Manuel Duque, presidente do Centro Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa, introduziu os conferencistas situando a Igreja “num espaço e num tempo concretos”.

Realçou que, embora mantendo os mesmos fundamentos, a Igreja em Vieira do Minho faz face a problemas diferentes dos de uma paróquia de Lisboa e enfrenta problemas que não são os mesmos de há 200 anos. “Hoje vivemos uma época de globalização do mercado e mediática.

Foi neste contexto que o bispo auxiliar de Lisboa disse que “a evangelização precisa de uma revolução”, para adiante caracterizar a sociedade actual identificando cries de indiferença dos povos, corrupção no futebol e na banca e identificar como causa maior para a crise generalizada do presente “o poder da economia sobre a política, com apoio da comunicação social, que transforma os cidadãos em consumidores”.

Segundo D. Carlos Azevedo, a Igreja “não se pode calar perante o valor superior do dinheiro”, precisa de aprofundar o diálogo com as ciências, mas também de se relacionar com uma sociedade onde a mulher tem novo protagonismo.

Erros de perspectiva, segundo Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou a intervenção de D. Carlos Azevedo “uma das peças mais profundas sobre a Igreja no mundo actual”, focou o que considera erros de perspectiva: que a Igreja são os bispos e os padres; que a Igreja é uma realidade poderosa; que o católico deixa de ser católico quando está em funções sociais ou profissionais. Em edições anteriores, as Conferências CAVA contaram entre outros com convidados como Júlio Machado Vaz, Saldanha Sanches, António Vitorino, Júlio Magalhães, e Pedro Passos Coelho.