Soutelo

image - Aurora Cruz e Rui Silva -

Escondida entre montes e penedos, espreita a freguesia de Soutelo. É uma das terras mais antigas do concelho. Os seus relatos históricos datam de 992.

A população, simpática e comunicativa, facilmente estica uma conversa à velocidade do sol ou do vento. Quem por lá passa, leva-a no coração, certamente. A maioria já soprou os cinquenta anos; os mais velhos vão ficando, mas os mais novos fogem. Quase todos são primos.

Ao longo de séculos, a agricultura foi a sua principal fonte de sustento. Tudo se aproveitava. Montes e matas andavam sempre de pés limpos. Não havia incêndios. Dos montes, vinham a caça, a lenha e o mato para as cortes; no campo, cultivavam-se feijões, milho. Hoje, a agricultura representa apenas uma pequena fatia, no orçamento das famílias.

Porém, orgulhosamente, os residentes não deixam morrer tradições ancestrais como o fazer das medas. No Inverno, quando a Mãe Natureza veste os campos com mantos brancos de neve, o gado não pode sair para pastar. Assim, tornou-se imperioso armazenar, durante os meses quentes. Por falta de espaço coberto para guardar erva seca, surgem as medas. Sob céu aberto, estes cones dourados e fofos são construídos, no fim do Verão. Depois de acabados, são a pele que receberá um guarda-chuva feito de colmo, erva grossa e seca, proveniente do centeio, que a vai proteger da fúria da água, durante longos e chuvosos meses.

Finalmente, obrigada à Aurora e ao Rui por se deixarem fotografar sobre a meda. A sua sabedoria recria a natureza, misturando técnicas da arte agrícola com a necessidade de armazenagem, enobrecendo o encontro da beleza com a simplicidade rural. Que o seu amor pela terra inspire outros interessados em valorizar e preservar o bem material, e imaterial, que ainda há em Soutelo.

Autor do texto: Elisa Barros