Louredo

image - Maria Lopes -

A imagem captada, num registo de absoluta concentração, por parte da artesã Maria Lopes, evidencia um conhecimento rigorosamente cuidado, por parte do fotógrafo, acerca da atividade artesanal que se desenvolve no mundo rural.

Poderemos considerar que a imagem seduz e dilacera a sensibilidade de quem, no instante, tem a lucidez e o sentido de oportunidade para poder captá-la. Combinação perfeita entre a expressividade facial, de quem tece, e a atividade laboral que desenvolve com emoção, com carinho e com sentido apurado do perfecionismo e da estética.

Na comunidade de Louredo, a tecelagem foi, desde sempre, desenvolvida na forma subsidiária da atividade agrícola. Desempenhada, de forma árdua, por mulheres dotadas da sabedoria empírica e experimental do saber tecer, preencheu, ao longo dos tempos, as tardes quentes de verão, os serões e os dias de inverno.

Grosso modo, o produto obtido (por norma tapetes e mantas de agasalho) era oferecido em épocas festivas; não raras vezes, era também vendido como se de uma obra de arte se tratasse, para adornar as casas mais luxuosas.

Neste registo fotográfico, parece ouvir-se o som do tear, o dedilhar da artesã que, pacientemente, coloca os fios e, mercê de um olhar atento, investe todo o seu sentir no tapete que vê crescer. Não é apenas o linho desfiado do seu tear, é, muitas vezes, o olhar que, humedecido de cansaço, contempla o trabalho onde investe o seu afeto. É um trabalho fotográfico notável, onde a simbiose entre a sensibilidade de quem capta o momento, e a alma de quem tece, se oferecem em uníssona reciprocidade.

Ainda que a atividade tenha vindo a registar cada vez menos adesão, verifica-se, no entanto, uma vontade intrínseca de se retomarem tradições que, entretanto, haviam caído em desuso.

É a Identidade de um povo, a memória do passado, o evocar de um património afetivo que, afinal, se mantém incólume na mente de todos quantos jamais querem desprender-se da sua viagem interior: a viagem do verdadeiro património afetivo!

Autor do texto: Cândida Pinto