Maria Gomes

“CAVA E AS PESSOAS CENTENÁRIAS DE VIEIRA DO MINHO”

Com uma frescura cativante e muita lucidez, Maria Gomes abre, aos 100 anos, o livro da sua vida!
Nasceu no concelho de Cabeceiras de Basto, a 19 de junho de 1920, onde viveu grande parte da sua vida. Passou, ainda, pelo Porto e por Mondim de Basto, mas quis o destino que, há cerca de 12 anos, Vieira do Minho fosse a terra que a acolheu e que, ainda hoje, a aconchega, na sua beleza e encanto natural. “Gosto muito de Vieira do Minho”, sublinha Maria Gomes.
Só teve um irmão. Os pais trabalhavam na agricultura e Maria também. Carinhosamente, diz que “ia com as vaquinhas para o campinho”. E, apesar da dureza da vida, ainda havia tempo para brincar com os amigos e saborear a alegria. E é na infância que destaca o momento mais feliz da sua vida, embora tenha tido muitos outros momentos felizes, mas não como este: “Fazer a comunhão solene, com um vestido emprestado, e que me trouxe uma alegria tamanha”, afirma Maria Gomes.
Tem a antiga 4.ª quarta classe que, diz, ter feito “com distinção”.
Relembra que não passou fome, mas não tinha os miminhos que há agora, como um simples iogurte. “Éramos pobres, pobrezinhos. Mas muito felizes, naquele tempo”, frisa.
Casou e teve um filho. Hoje, orgulhosamente, contabiliza um casal de netos, sete bisnetos e um trineto. Mas é também à família, ou melhor a um familiar, que liga o momento mais triste da sua vida: “A ida do meu filho para a guerra. Esse foi um momento muito triste”.
Depois da tempestade, vem a bonança. E esta dor enorme sanou, quando voltou a abraçar o jovem filho.
Apesar de tantas tormentas, a sua maior lição de vida é “ser educada”, com todos.
E é com educação e sabedoria que diz, aos mais jovens, “para amarem a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos”. E continua: “Devemos ser amigos uns dos outros, sermos compreensivos; termos muita paciência, para podermos enfrentar a vida”.
Sobre a pandemia que, duramente, atravessamos, Maria Gomes diz ser uma “tristeza, uma situação difícil”. “Parecemos uns prisioneiros”, acrescenta. E logo se recorda de uma época que a mãe também viveu, muito semelhante, nos idos 1918 – a gripe pneumónica.
Incrivelmente, aos 100 anos, as suas mãos ainda fazem croché e sonhos, com o mesmo vigor de há 40 anos. Trabalhou muito, ao longo da vida, mas gostava muito de o fazer. “Ainda hoje, as minhas mãozinhas não podem estar quietas. Têm de trabalhar muito”.
E, em cada pecinha de croché feita por Maria Gomes, fica um pouco da sua identidade, talento, resiliência e também um pouco dos seus sonhos.
Afinal de contas, aos 100 anos, a força, o sonho e a esperança ainda comandam a vida.

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Um projecto CAVA, visto pelo olhar atento de Daniel Rodrigues, fotógrafo vencedor do World Press Photo, e João Sousa, videógrafo, com o apoio do Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P. (IPDJ, I. P.); Câmara Municipal de Vieira do Minho; O Jornal de Vieira; Rádio Alto Ave e Vieira do Minho TV.