Vieira do Minho
Domingos Silva e Fátima Silva
O sentimento e a necessidade da evasão, das viagens, das descobertas e da quebra das rotinas, são preceitos da natureza humana que se manifestam e se efetivam pelas razões mais inusitadas e através das mais variadíssimas formas e meios.
O turismo, fenómeno cronologicamente situado na primeira década do século XX, identificado com uma burguesia industrial próspera e ávida de saber e de conhecer, encontraria nos anos vinte as condições que lhe permitiram criar os alicerces fortes e irreversíveis de uma opção de vida que, como nunca antes visto, o sentimento e a necessidade de evasão apoderam-se de uma sociedade saída de uma primeira guerra mundial traumatizante (1914-1918), que era preciso esquecer. O medo, as dificuldades, os horrores da morte e os desgostos vividos durante o conflito mundial eram esquecidos, para quem podia, pelo desejo eufórico de gozar a vida de forma intensa. São os “loucos anos vinte” ou roaring twenties, isto é, os frenéticos anos vinte.
Abria-se, assim, a caixa de pandora de um dos fenómenos de maior interesse à escala mundial, o turismo, pelas valências que alberga e os seus requisitos estruturantes, com reflexos diretos e indiretos, na economia, na cultura ou na sociedade de uma localidade, de uma região ou de um país. Hoje, como nunca, o setor do turismo contribui de forma decisiva para o PIB de muitos países. Em muitos casos, o mais importante e decisivo. Portugal enquadra-se e faz parte dos países como destino privilegiado para o turismo e as mais-valias mostram isso. Dados estatísticos mostram que, tanto a nível de receitas, como de de turistas que nos visitam, os números confirmam uma subida cada vez maior e de forma consolidada.
Mais números e mais palavras para quê? Estamos perante dados objetivos que mostram a importância estratégica que o turismo tem no nosso país, em virtude da sua capacidade convergente de criar riqueza, emprego e desenvolvimento nacional e local. Numa altura em que se debate a problemática do desemprego e da desertificação do interior, levando às mais complexas e demagógicas dissertações de tantos pseudo-iluminados, no sentido de se encontrar soluções plausíveis, porque não medidas de fundo, e não de cosmética, nesta área?
O Turismo vive e alimenta-se da oferta de bens e de serviços, num setor de forte concorrência onde a qualidade, o preço e a variedade se dirigem para um público vasto e heterogéneo e de interesses multifacetados, que exigem oferta variada, qualidade, saber profissional e empreendedorismo. As grandes conquistas e o sucesso têm-nos mostrado, contudo, que inovação e empreendedorismo não significam, necessariamente, fórmulas mágicas e complexas, bem pelo contrário.
Se com isto se pretende valorizar o que é simples, imprescindível e apetecível, nada melhor do que o alimento, a boa mesa e a boa comida, em suma, a gastronomia. Vemos, ouvimos e lemos, em Portugal e no mundo, uma nova e diferente conceção de cozinha e seus profissionais, valorizados através de mediáticos programas televisivos com propósitos de divulgação e promoção da arte de bem confecionar os alimentos.
A gastronomia é hoje, comummente aceite, decisiva para o turismo. O alimento, quando deixa de ser, apenas, a satisfação de uma necessidade fisiológica e é tratado e encarado com arte, requinte e sentimento, adquire o estatuto de património através do qual se conhece a história, a cultura e a identidade de um povo e de uma região.
Porque assim é, não seria um desafio interessante colocar Vieira do Minho no roteiro do turismo gastronómico com o arroz de “pica no chão”, inspirados e dando continuidade a um saber ancestral que o casal D.ª Fátima Silva e Sr. Domingos Silva orgulhosamente ostenta, como que a pretenderem transmitir às novas gerações um legado de família e a mensagem otimista de que, “a marcha implacável dos anos enrugam a pele, mas não o entusiasmo”. Vieira do Minho no roteiro turístico com o “pica no chão”? Porque não!?
Autor do texto: Armando Ferreira